Crítica de gibi, para quê?

Olá,
Existem duas perguntas que podem ser feitas, mas em geral não são, não juntas. Sobre qualquer coisa. Uma é “por quê?”. A outra é “para quê?”. Não são a mesma coisa. Perguntar por que algo acontece não é a mesma coisa que perguntar para que se faz algo, ou para que usar essa coisa. Sem muito mais filosofia que isso, queria pensar em um para quê, uma finalidade da crítica para histórias em quadrinhos, gibis, tirinhas, qualquer coisa dessa arte gráfica, textual, acional, que amamos tanto e que, pelo menos por essas terras, é ainda tão subconsiderada.

Para começar, essa subconsideração. O Brasil – ok, a crítica, os professores, os que não lêem HQ* – ainda tratam-na como se fosse “coisa de criança”, subgênero, paraliteratura, mídia de massa, tudo menos qualquer coisa séria. Talvez um passado recente, cheio de marxismos, ditaduras e tais, tenha contribuído para um país em que há formas artísticas levadas a sério – como a música para alguns, embora cada vez mais uma minoria – e formas para os que não têm tanto “gosto” assim, tanta inteligência. Bom, isso só mostra o quanto o Brasil ainda é o país mais parnasiano que existe: idolatra o que não entende, pode tornar sua antropofagia fonte de indigestão, já que não processa o que come, e come o que aparece pela frente, meio sem critério. Já que se leva tanto pelas vogas externas – o que não acho nem um pouco ruim em si, ao contrário – sua crítica podia entender que HQ é arte, com todos os matizes qualitativos: há a parte refinada e a parte “povão”, e nem o refinamento nem a popularidade indicam qualidade. Só a leitura vai indicar. Leiam, portanto. Mas acho que os professores e autoridades aqui têm mais que fazer, não? Não têm tempo para entender que lá fora já virou arte, instituição, “gente grande” há algum tempo. E nós aqui…

Então, para que a crítica? Bom, para tentar mostrar às pessoas, tanto a neófitos quanto a estudiosos, eu incluso, a riqueza que há em histórias em quadrinhos, tanto formalmente, como veículo de construção artística (e cada arte se diferencia com seus materiais e seus modos de abordá-los) quanto nas relações dos quadrinhos com o mundo, seus leitores, suas obras-primas, seus expoentes, suas coisas legais (e suas coisas horríveis também). Só espero que não venham aqui pensando em arte sem prazer (sim, quadrinho é arte, acredite, não dói). Antes e mais importante do que ser um veículo de pensamento, esse blog é um veículo de prazer. Pelo texto bem lido, ou pelo riso dado ao texto mal escrito.

Post que vem, na semana que vem: como lemos HQ, o que nosso cérebro faz para que leiamos e as coisas façam (algum) sentido.

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* HQs: histórias em quadrinhos. Se você precisa de explicação para isso, começou a ler gibi agora, provavelmente por obrigação.

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